PROFESSOR JOSÉ LIMA PEDREIRA DE FREITAS
PATRONO DO CENTRO ACADÊMICO DA FACULDADE DE MEDICINA
DO NORTE DO PARANÁ (LONDRINA)


Aula inaugural do Curso de Parasitologia, dada em 3/3/68 na Faculdade de Medicina do
Norte do Paraná (Londrina), pelo Prof.Samuel B.Pessôa.


Sejam nossas primeiras palavras nesta Faculdade de Medicina do Norte do Paraná de sinceros louvores aos seus estudantes que, em um alto gesto de admiração e justiça, souberam homenagear a memória do malogrado cientista brasileiro, Professor JOSÉ LIMA PEDREIRA DE FREITAS, dando seu nome ao Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina de Londrina.

É sempre com emoção profunda que falo da vida deste grande professor, que foi meu aluno, meu assistente durante longos anos na Faculdade de Medicina de São Paulo e meu amigo inesquecível que muito admirava e respeitava. Roubado tão cedo à sua família, aos seus amigos e à ciência, o notável professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e eminente pesquisador, tornou-se a maior autoridade mundial em doença de Chagas e foi o fundador, no Brasil, da disciplina de Medicina Preventiva, para isto revolucionando os métodos clássicos do ensino da Cadeira de Higiene. De uma extraordinária retidão de caráter, apesar de ter morrido moço, tornou-se figura quase lendária por suas convicções religiosas e filosóficas e pelas suas posições inflexíveis na “defesa da liberdade, da justiça e da dignidade humana”.

O Prof. José Lima Pedreira de Freitas, nasceu aos 12 de janeiro de 1917, em Mococa Estado de São Paulo, e era filho do Dr. José Pedreira de Freitas e D.Alcina Lima Pedreira de Freitas. Após curso secundário feito no Liceu Franco-Brasileiro, Colégio São Luiz e Ginásio São Bento, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de S.Paulo, por onde se diplomou médico em 1941, após brilhante curso em que teve a oportunidade de conquistar, por duas vezes, o prêmio “Paulo Montenegro”. Realizou curso de aperfeiçoamento na Escola Paulista de Medicina em 1941, e em 1952 e 1953, realizou curso de pós-graduação em saúde pública na Universidade de John Hopkins do E.U.A., obtendo o título de Sanitarista. Em 1943 ingressou no Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicina de São Paulo e dez anos após, em 1953, transferiu-se, na qualidade de Professor-adjunto, para o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicinas de Ribeirão Preto. Em 1954, foi convidado para professor do Departamento de Higiene e Medicina Preventiva, efetivando-se na Cátedra após brilhante concurso realizado em 1963. Foi neste posto que a morte veio colhê-lo, em pleno exercício de sua atividade de Professor e Pesquisador, da volta da Colômbia, onde fora representar a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto em simpósio sobre ensino médico.

Ao fazer parte do corpo docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, como assistente do Departamento de Parasitologia, na ocasião sob minha direção, o Brasil estava em guerra com as potências nazistas, e a malária representava importante doença endêmica necessitando das maiores pesquisas. Daí ter o Prof. Pedreira de Freitas integrado a equipe de “Estudos sobre malária”, sendo que alguns pesquisadores se dedicavam à Malária Humana, orientada pelo Prof. Ayrosa Galvão, e outros sobre “Malária Aviária”, orientados pelo Prof.Mauro Pereira Barretto. Dedicou-se o Prof.Pedreira de Freitas à malária aviária; os seus 5 primeiros trabalhos dizem respeito a esta parasitose (1943-1945). São neles investigadas a ação de várias substâncias químicas para a terapêutica da malária, bem como o ciclo biológico e os caracteres da infecção determinada pelo Plasmodium galinaceum na galinha. Procurava-se, nesta ocasião, devido à guerra e á escassez de quinina, descobrir um antimalárico autóctone , o que, com a volta à paz e com a evolução dos conhecimentos sobre novos antimaláricos sintéticos, tornaram de menor interesse a pesquisa nesse campo.

Voltou-se, então, o Prof. Pedreira de Freitas para as pesquisas sobre a doença de Chagas, por ter percebido, após um estado clínico sobre a parasitose, realizado com o Prof. Decourt, o atraso em que estavam nossos conhecimentos acerca de numerosos aspectos da doença, principalmente questões ligadas ao seu diagnóstico, epidemiologia, tratamento e profilaxia. Tornou-se o Prof. Pedreira de Freitas o grande especialista sobre doença de Chagas, moléstia gravíssima que incide, segundo os peritos da O.M.S. (1960) da qual o Prof. Pedreira de Freitas era um dos seus membros mais proeminentes, pelo menos em 7 milhões de indivíduos infectados pelo Trypanossoma cruzzi e em cerca de 35 milhões no número de pessoas expostas aos riscos da infecção. Como o mais importante na ocasião era o diagnóstico desta parasitose, dedicou-se ao estudo deste problema, durante anos e tornou-se o nome mais proeminente do mundo neste campo científico. No interessante ensaio “História da Doença de Chagas” escrita em 1963 por Milton Carneiro, antigo professor de Parasitologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná, lê o seguinte a respeito deste fato: “O jovem e ilustre professor de Higiene numa das melhores Faculdade de Medicina do Brasil, a de Ribeirão Preto, é, no mundo o maior conhecedor das questões de diagnóstico da doença de Chagas”.

Sua dedicação ao estudo e solução dos problemas mais importantes da higiene rural brasileira veio de uma sua primeira excursão à Cássia dos Coqueiros (município de Cajurú, Estado de São Paulo), realizada em 1945 quando teve ocasião de fazer observação que ficou clássica sobre a doença de Chagas. Esta refere-se ao proprietário de um armazém na localidade em apreço, que não mais fiava aos moradores da vila, não porque eles não pagassem, mas porque muitos deles morriam de repente, dando-lhe por esse fato, bastante prejuízo. As mortes súbitas eram ocasionadas pela doença de Chagas como posteriormente verificou. Em conferência realizada em 1947 no Centro Médico de Ribeirão Preto (ainda quando Assistente do Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicina de São Paulo) relata assim esta questão: “Numa pequena Vila Cássia dos Coqueiros – no município de Cajurú, vimos levando a efeito uma série de estudos sobre a “moléstia de Chagas”. Desde o início do corrente ano, dispomos lá de um pequeno posto instalado (por nós em cooperação com a Diretoria de Serviço do Interior do Departamento de Saúde de São Paulo, graças ao que realizamos naquela localidade, um inquérito sistematizado sobre esta infecção (Doença de Chagas). Entre cerca de 1.000 indivíduos examinados, moradores das casas infectadas por “barbeiros” (pois praticamente todas as casas o são), pudemos constatar que aproximadamente 50% deles mostram-se infectados pelo T.cruzzi. Entre estes são numerosos os que apresentam formas cardíacas crônicas da moléstia, terminada várias vezes pela “morte súbita”. O Posto Rural que lá fundou resolveu definitivamente a grave questão da doença de Chagas na localidade. Após a morte de Pedreira de Freitas, tivemos a oportunidade de visitar a vila, hoje cidade de Cássia dos Coqueiros, sede do município do mesmo nome; não vimos mais casas de pau-a-pique; o Posto se transformou em um Centro de Saúde com ambulatório e enfermaria; todos os habitantes do município são atendidos e medicados quaisquer que sejam as suas enfermidades; no Centro fazem estágio os estudantes de medicina da Faculdade de Ribeirão Preto, para melhor conhecerem nossos problemas médicos rurais e o que é mais importante, na antiga vila, hoje cidade e em todo o município, desapareceu a doença de Chagas. Tudo obra do grande professor e vosso patrono, o Prof. Pedreira de Freitas.

Seus estudos sobre doença de Chagas podem ser encarados de acordo com os seguintes itens: Diagnóstico, Clínica, Transmissão, Epidemiologia, Tratamento e Profilaxia.

          1) Diagnóstico – Relativamente ao diagnóstico publicou estudos fundamentais para o aperfeiçoamento dos métodos de diagnóstico dessa moléstia, quer do ponto de vista parasitológico (métodos para a demonstração de parasita), quer dos métodos imuno-biológicos. Suas contribuições para o melhor conhecimento da sorologia e dos métodos de diagnóstico sorológico da doença em apreço destacam-se por sua excelência e originalidade. Citemos entre outros – “Contribuição para o diagnóstico da moléstia de Chagas, por processos de laboratório” 1947; “Nova técnica de fixação do complemente para a moléstia de Chagas: Reação quantitativa com antígeno “gelificado” de culturas do Trypanossoma cruzzi” (em col. com o Prof. J.O. Almeida). Este trabalho trouxe contribuição essencial para o diagnóstico sorológico da doença, pois afastou várias causas de erro, que muito desmereciam o emprego do antígeno de Davis usando a técnica de Kolmer, como, por exemplo, a instabilidade do antígeno. Foi empregada, com a nova técnica, unidade cinqüenta por cento de hemólise na dosagem do complemento a padronização dos reagentes de acordo com o método quantitativo de Waldsworth e cols. Em torno deste trabalho basilar, publicou vários outros para melhor esclarecer a técnica preconizada e, finalmente, deu à publicidade um trabalho que podemos considerar como definitivo sobre o assunto, que denominou “Reação de fixação do complemento para diagnóstico da moléstia de Chagas, pela técnica quantitativa que constituiu sua tese de Livre-docência, defendida em 1951 e aprovada com distinção, grau 10. Ainda neste campo, estudou aspectos particulares da nova reação e sua aplicação ao conhecimento da doença, com a “estabilidade do antígeno”, reações atípicas em fixação do complemento no sistema sífilis e doença de Chagas”, “fixação com tríplice antígeno” e outros.

Em relação aos métodos destinados à demonstração dos parasitas, contribuiu com vários trabalhos em que são estudados os vários processos usados e mostra no estudo de 1947, ser o xenodiagnóstico o melhor entre eles. Estuda “O tempo ótimo para o exame de triatomíneos empregados neste método”, (1950); faz um “Estudo comparativo entre xenodiagnósticos praticados “in vitro” (1955); e ainda em 1955 estuda os “Aspectos morfológicos do Trypanossoma cruzzi e de outros parasitas de importância no diagnóstico da moléstia de Chagas”.

          2) Clínica – Para o conhecimento clínico da doença de Chagas contribuiu o Prof. Pedreira de Freitas com vários estudos, dos quais citamos os principais: “Alterações cardíacas na doença de Chagas (1946) “sobre os aspectos hematológicos nas fases iniciais” (em col. com Jamra, Amato Neto e outros), e em 1949, em colaboração com o Prof. Jairo Ramos e outros, publica importante estudo clínico-epidemiológico sobre a tripanossomose americana, em que mostra superar a etiologia chagásica qualquer outra causa de cardiopatias em uma zona endêmica.

         3) Transmissão – São numerosos e importantes os trabalhos publicados pelo patrono deste Centro Acadêmico, só ou em colaboração, com referência a este assunto tão importante que á a transmissão do Trypanossoma cruzzi, e assim mostra pela primeira vez a realidade da transmissão do parasita pela transmissão de sangue. Amplia, sem seguida, os conhecimentos sobre a presença de portadores do T.cruzzi entre doadores de sangue em vários bancos de sangue de São Paulo (1952, 1953) de Minas Gerais (1955, 1958) e se dedica com Nussenzweig, Biancalana e outros colaboradores, ao estudo de possibilidade de ser o sangue esterilizado “in vitro” pelo uso de substâncias químicas ou por meio de métodos físicos. Os trabalhos experimentais realizados (1953 a 1955) indicam ser a violeta de genciana droga muito eficaz e praticamente inócua na concentração recomendada. Em vários artigos e conferência, divulga o uso deste método para a profilaxia da transmissão da doença de Chagas por transfusão de sangue, prática hoje adotada em todos os serviços em que não é realizada a fixação do complemento. Em 1950 publicou um trabalho sobre a transmissão intrauterina da doença e nesse mesmo ano dá a lume importante estudo sobre os xenodiagnósticos praticados em reservatórios domésticos e silvestres em uma localidade endêmica. Verificação pioneira para o esclarecimento da importância dos reservatórios domésticos em certas localidades em contraposição com a escassez de reservatórios silvestres. Também os dados obtidos nesta investigação informam sobre a predominância de triatomíneos domiciliares na zona considerada, bem como a falta de vetores em certas regiões selvagens. Trabalho semelhante foi desenvolvido em 1951 em Ninas Gerais, no Município de Campo Florido.

           4) Epidemiologia – Os numerosos estudos de laboratório concernentes ao diagnóstico da doença de Chagas, elaborados pelo Prof. Pedreira de Freitas, foram por ele desde logo aplicados na prática da Saúde Pública, pelo desenvolvimento de grande número de inquéritos epidemiológicos, realizados em várias localidades do nosso País e que constituíram a demonstração mais objetiva até então dada relativa a disseminação dessa infecção entre nossas populações rurais. Citaremos os principais: “Inquérito preliminar sobre a moléstia de Chagas em Cajurú (S.Paulo, 1946), idem no Município de Franca (S. Paulo, 1946), em Sorocaba (1948), em São Carlos (1950), no Município de Rio Verde (E. de Goiás, 1951), no Município de Echaporã (E. de S.Paulo, 1951), em vários municípios do Estado de Goiás (1951), no Município de Marília (S.Paulo, 1951).

Em 1961, realizam investigações epidemiológicas sobre triatomíneos domésticos e silvestres com o auxílio da reação de precipitina. Os resultados obtidos com este trabalho são de grande interesse, pois permitem melhor encarar a possibilidade da existência de raças domiciliar e silvestre de uma espécie.

           5) Tratamento – Com referência a este item publica o Prof. Pedreira de Freitas uma revisão sobre a terapêutica da doença de Chagas (1952) e, em 1962, outra de maior importância, em que analisa a questão da sorologia na padronização dos métodos terapêuticos da doença de Chagas.

         6) Profilaxia – Em 1950, nos primórdios do uso de inseticidas de efeito residual contra os triatomíneos, estudou o ilustre pesquisador, o valor comparativo do Rhodiatox (inseticida fosforado) e do Gamexane (inseticida clorado), mostrando o maior valor deste último composto. Em 1961, relata em trabalho feito em colaboração com Ferreira, Duarte e Haddad, os resultados obtidos com o combate intensivo aos triatomíneos em Cássia dos Coqueiros, revelando possuir o Dieldrin, aplicado sob a forma de pó molhável, na concentração de 1g por m2, ação anti-triatomínea mais fraca do que o BHC aplicado da mesma forma na concentração de 0,5 por m2. Chama a atenção sobre o perigo do uso do Dieldrin por possuir elevado poder tóxico para o homem e outros mamíferos e para as aves. Resultado importante este, principalmente naquele momento em que já se cogitava, entre nós, na sua aplicação em alta escala nas campanhas de profilaxia da doença de Chagas, em vista dos resultados obtidos em Venezuela e, também, devido a intensa campanha de seus fabricantes a favor do uso desta substância como inseticida. Mostra este trabalho a preocupação do cientista com a saúde do homem com o uso indiscriminado de inseticidas, principalmente os de ação residual, estudando com paciência e pertinácia incríveis, durante mais de seis anos a maneira de reinfestação das casas, a fim de poder ser preconizado um combate eletivo com os inseticidas atuais até que se descubra algum outro, mesmo não dotado de ação residual e que assim não tenha ação tóxica sobre os moradores das residências infestadas pelos “barbeiros”.

Tendo-se tornado, em virtude de seus numerosos e importantes trabalhos, autoridade inconteste nas questões pertinentes à doença de Chagas, viu-se o Prof. Pedreira de Freitas solicitado para proferir conferências, aulas e cursos, não só atinentes a este assunto, como também relativos à organização e ao ensino da Medicina Preventiva. Como grande cientista que era dava a mão a todos que o procuravam, distribuindo, sem olhar a quem, sem medir sacrifícios, seus conhecimentos científicos e técnicos, adquiridos pelo estudo e esforço constantes de uma vida inteiramente dedicada ao trabalho e à cultura. Foi extraordinariamente ativa sua vida neste setor; basta citar suas conferências, palestras, aulas, em que encara os mais diversos aspectos da endemia chagásica, perante numerosas Associações e Escolas Médicas como a Associação de Medicina de Franca (1945); Sociedade de Medicina de São Paulo (1949); Sociedade do Serviço do Prof. Celestino Bourrol (1949); Associação Paulista de Medicina (1950); Faculdade de Higiene de São Paulo (1948, 1950, 1958); Escola Paulista de Medicina (1949, 1958); Faculdade de Farmácia e Odontologia (1950); Santa Casa de Ribeirão Preto (1954); Sociedade de Medicina de Céres (Goiás, 1954); Faculdade de Medicina de Mendonza (Argentina, 1960); Sociedade de Medicina de Buenos Aires (1964); Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (1962); Faculdade de Medicina de Montevidéu (1961), e outros que seria longo enumerar. Além disso participou de inúmeros Congressos Médicos, Simpósios, Mesas Redondas, divulgando os conhecimentos sobre a doença de Chagas e outras endemias brasileiras, tais como: 1 º Congresso Interamericano de Medicina (Rio de Janeiro, 1946); 1º Congresso Médico-Sanitário Regional de Sorocaba (1949); Simpósio sobre moléstia de Chagas (Ribeirão Preto, 1950); IV Congresso Médico do Triângulo Mineiro (Uberaba, 1950); II Congresso Médico do Brasil Central (Uberaba, 1950); V Reunião da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Recife, 1948); VI Reunião da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Rio, 1949); VII Reunião da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Porto Alegre, 1950); IV Congresso Médico Interestadual (1949), IX Congresso Brasileiro de Higiene (Rio Grande do Sul 1951); I Congresso Interamericano de Higiene (Havana, 1957); IV Congresso Brasileiro de Hemoterapia e Hematologia (Recife, 1954); XI Semana Médica do Norte do Paraná (Londrina, 1955); Seminário sobre ensino de Medicina Preventiva (Chile, 1955); VIII Congresso Médico do Triângulo Mineiro e do Brasil Central (Uberaba, 1956); VI Jornada Paulista de Administração Hospitalar (1917); I Congresso da Associação Médica Brasileira (Ribeirão Preto, 1956); I Seminário Brasileiro sobre doença de Chagas (Paraíba, 1957); IX Congresso Médico do Brasil Central (Goiânia, 1958); Reunião de Estudos Internacionais sobre Epidemiologia (Cali, Colômbia, 1959); Congresso Internacional do Cinqüentenário da doença de Chagas (1959); Simpósio sobre Epidemiologia da Lepra (S.Paulo, 1960); III Congresso da Associação Internacional de Epidemiologia (Korcula, Yugoslávia, 1961); XI Congresso do Triângulo Mineiro e do Brasil Central (Uberaba, 1963), VII Congressos Internacionais de Medicina Tropical e Malária (Rio, 1963); Conferência Anual sobre Demografia e Saúde Pública (Nova Yorque, 1964) e muitos outros que seria longo citar.

Além dos trabalhos científicos sobre malária e doença de Chagas, já referidos, publicou ainda, o extraordinário e dinâmico pesquisador, outros estudos, abrangendo vários campos de ciência médica. Citaremos alguns: em 1946 descreve o primeiro caso de Sarcosporidiose humana observado no Brasil; estuda a fixação do complemento na esquistossomose pelo método quantitativo (em colaboração com J.Pellegrino, 1961). Realizou ainda várias conferências sobre assuntos que interessam à medicina preventiva, como o “Ensino de Medicina Preventiva e Social”, em Honduras, 1961; Formação do Médico e a Saúde Pública” na Escola de Saúde Pública da Universidade de Buenos Aires (1960); Vacinação anti-poliomielítica”, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Temos visto assim e de uma maneira sucinta a vida científica do ilustre patrono do Centro Acadêmico desta Faculdade de Medicina. Seus trabalhos apresentam grande mérito, não só pelas contribuições científicas trazidas, como por tratar-se de estudos desenvolvidos durante longos anos, segundo uma linha planejada de investigações laboratoriais e aplicações práticas que, se de um lado trouxeram larga contribuição à ciência, de outro, revelaram-se instrumentos imprescindíveis aos estudos de Saúde Pública e a profilaxia de uma das mais sérias endemias que ainda assolam nossas populações rurais – a doença de Chagas.

Para dar uma idéia de sua operosidade como pesquisador, basta dizer que publicou cerca de 70 trabalhos originais e realizou mais de 30 conferências abordando não só questões referentes à doença de Chagas, como às Verminoses, à Malária, ás Moléstias Transmissíveis, à Cultura Médica e ao Ensino Médico, Conquistou o Prof. Pedreira de Freitas vários prêmios científicos, como “Prêmio João Florêncio Gomes”, conferido pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1947; em 1948 o Prêmio “Richard Pierce Jor”, conferido pela Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; em 1960 o Prêmio “José Pinto Alves”, conferido pela Associação Paulista de Medicina ao melhor trabalho sobre Parasitologia e em 1964 o Prêmio “Dr. Antenor Consoni”, outorgado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto para o melhor trabalho sobre doença de Chagas.

Eis, em rápido esforço, a vida científica do grande Professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, tão cedo arrebatado do nosso convívio e às lides científicas e universitárias. Percebia-se em Pedreira de Freitas não só o homem autêntico como o bondoso coração; se nos elevava é porque estava muito alto, sua alma formada, como todos se apercebiam ao primeiro contato, de nobres sentimentos, esquecimento de si constantemente impelido por impulsos generosos e desinteressados era, entretanto movido com destemor diante de uma situação que implicasse a defesa de um princípio justo, da liberdade individual ameaçada ou de um nobre ideal. Realista como era, sempre com os pés na terra, era no entanto homem de profunda fé católica romana, que o envolvia às vezes como que em uma aura de misticismo, misticismo este que quisemos expressar no seguinte trecho de um modesto artigo sobre sua vida e que publicamos no Jornal Brasileiro de Medicina Tropical: “No seu Departamento criou um ambiente de trabalho, amizade e cultura. Freqüentado não só por seus assistentes e médicos de outros Estados Brasileiros e por estrangeiros, mas ainda por numerosos estudantes dos últimos anos do curso médico, a todos tratava com ele comunicava uma certeza quase mística de que, no com carinho e com extrema polidez; sua simples presença infundia em todos seus alunos e colaboradores mais entusiasmo e mais vigor na realização das próprias tarefas, e o convívio constante com ele comunicava uma certeza quase mística de que, no final, a justiça, a paz e a liberdade seriam, no mundo, as forças vencedoras. Dele ouvimos várias vezes, o conceito de ser impossível cultivar a ciência a não ser em um clima de liberdade; liberdade de escolha do objetivo a pesquisar, liberdade de discussão e liberdade de expressão.

Os alunos desta Faculdade ao escolherem o nome do Professor Pedreira de Freitas como seu Patrono, naturalmente tomarão sua vida como exemplo. E como vimos, o que sempre norteou a vida do ilustre Patrono deste Centro foi: o trabalho constante e ininterrupto, o culto à Pátria e à Ciência e a retidão de um caráter autêntico que nunca se dobrou à imposição de outrem, mas sempre defendeu o direito dele e de qualquer outro homem ter sempre suas próprias convicções.